"CRIANÇA NÃO
NAMORA": CAMPANHA DISCUTE EROTIZAÇÃO PRECOCE
Organizada pela
Secretaria de Assistência Social do Amazonas, ação tem sido compartilhada por
pais e mães na internet.
Por Texto Olívia
Fraga - 07/04/2017 17h10 -
atualizada em 07/04/2017 17h33
A cena é
corriqueira. Cedo ou tarde, os filhos voltam da escola anunciando um namorico
com um coleguinha, menino ou menina. A reação dos pais oscila entre o susto e a
surpresa. Nunca passa em branco. E nem pode.
A Secretaria de
Assistência Social do Amazonas lançou, no último dia 5 de abril, uma campanha
na internet contra a erotização precoce das crianças, com o slogan
"Criança não namora, nem de brincadeira", em parceria com o blog Quartinho da Dany. A
hashtag #criancanaonamora ganhou as redes sociais e faz parte de uma ação mais
ampla do governo do Amazonas que pretende mobilizar escolas, comunidades,
psicólogos e pais contra a exploração infantil.
“Em dois dias,
nossa caixa de e-mails lotou" conta Carolina Pinheiro, assessora de
comunicação da Secretaria do Estado de Assistência Social. "Não pensamos
que fôssemos ouvir tantas histórias diferentes. Muitos pais e professores
realmente não sabem como agir em relação ao assunto, e precisam de um
suporte", afirma Luiz Coderch, coordenador do Centro de Convivência da
Família e do Idoso do Estado do Amazonas. "Esbarramos em um quadro mais
complexo quando se fala em comportamento inadequado de crianças. No geral, elas
apenas reproduzem o que veem em casa ou o que são incentivadas a fazer ou a
dizer. Então, o problema é de toda a sociedade. O que ela vê, ela faz."
É preciso respeitar
o desenvolvimento
cognitivo de cada etapa da
vida. Uma criança não sabe o que é um namoro, ela não tem esse discernimento.
Para Luiz, é natural que meninos e meninas sintam algum tipo de repulsa em
relação aos beijos entre adultos - sinal de que ainda não têm maturidade para
compreender todas as nuances de um relacionamento com outras pessoas. Do ponto
de visto psicológico e biológico, precisam amadurecer. "Um abraço no
amiguinho, um beijo no rosto e demonstrações de afeto que ele recebe dos
adultos em casa são seu instrumental afetivo. Beijar os pais na boca, por
exemplo, especialmente entre os 4 e 7 anos, não é algo totalmente adequado. Nem
pediatras recomendam."
Para Vera
Zimmermann, psicanalista do Centro de Referência da Infância e Adolescência da
Unifesp (SP), o machismo ocupa papel central nessa história. Em idade escolar,
meninos são incentivados a terem uma "namoradinha", e meninas são
ensinadas a se comportar. Essa é a regra geral. "Os pais interpretam o
interesse pelo outro, as preferências por tais e tais amigos, as primeiras
escolhas infantis, como algo erótico, quase genital. Não se trata disso. A
criança só está aprendendo a fazer amigos e a se relacionar. Não são namoradas
ou namorados. Essa é uma projeção dos adultos."
Professores e
escolas também precisam estar atentos. A conversa precisa de uma correção de
rota, caso o papo de namoro surja muito cedo. Criança
tem de brincar. A brincadeira infantil é um exercício de comportamento; ao
pular o aprendizado, a criança apenas reproduz comportamentos, sem
compreendê-los. A hora de namorar vai chegar. "Os adultos é que precisam
ser reeducados a entender o universo infantil. A criança não discrimina sentimentos
de aproximação e amizade. Antecipar essas sensações só causam angústia à
criança. É preciso reconduzi-la ao mundo infantil", crê Vera.
Afinal, quando é
hora?
Vera acredita que, dos 9 aos 12 anos, com o início da adolescência, a curiosidade deve aumentar. Os pais precisam direcionar a energia das crianças para o conhecimento, para os esportes, os estudos, e aguardar a maturidade completa para a entrada na puberdade. Não é preciso estimulá-la nessa direção. Dar tempo ao tempo é a melhor resposta.


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