ADEUS: Vertentes parou na despedida ao ex-prefeito Ozair Cavalcanti
Localizada a 123 km do Recife, Vertentes, com 20 mil habitantes, no
Agreste Setentrional, parou, há pouco, para prestar a última homenagem
ao seu maior líder político, o ex-prefeito Ozair Cavalcanti, 74 anos,
que morreu ontem no Recife, vítima de complicações renais e no fígado.
Uma multidão acompanhou o cortejo fúnebre pelas ruas da cidade até o
cemitério, onde foi sepultado sob forte emoção. Homem de personalidade
forte, advogado de carreira e político por vocação, Ozair governou a sua
terra natal por duas vezes.
O primeiro mandato, de 1977 a 82, e o segundo de 92 a 96, conferiram a
ele uma popularidade que nenhum gestor havia obtido no município, pela
forma de administrar olhando os mais necessitados, com políticas
públicas na área social.
“Ozair era o pai dos pobres”, define o vereador Jânio
Arruda (PSD), de Taquaritinga do Norte, município próximo. Arruda teve
uma longa convivência com Ozair, de quem recebeu apoio para disputar um
mandato de deputado estadual nos anos 90. “Nunca vi um homem tão generoso com os pobres, mas também valente e destemido, de não levar desaforo para casa."
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Fotos: Otávio Souto |
A valentia do ex-prefeito, pai da jornalista Hylda Cavalcanti e do
advogado e ex-vereador Severino Cavalcanti, que morreu afogado com
apenas 31 anos, ganhou notoriedade na região e muita gente temia
enfrentá-lo. Conta Jânio que Vertentes entrou para a história como a
única cidade do País onde se assistiu a uma carreata na qual os carros
andaram de ré.
Segundo ele, isso se deu quando uma nora de Ozair perdeu as eleições
para prefeito e o candidato vencedor chegou a provocá-lo ao tentar
incluir a sua casa no roteiro da carreata. “Quando a turma se aproximou
da casa de Ozair, fazendo barulho e anarquia, ele pegou uma bazuca e
atirou nos pneus de um dos carros. Neste momento, a carreata passou a
andar para trás, de ré”, relembra Arruda.
Prefeito de Santa Cruz do Capibaribe, o ex-deputado Edson Vieira (PSDB)
veio ao sepultamento do líder de Vertentes. De Ozair, recebeu apoio para
disputar seu primeiro mandato de estadual, obtendo dois mil votos no
município. “Mesmo fora do poder, Ozair tinha um grande poder de
transferência de voto, porque era um líder natural, amado pelo povo, mas
também odiado pelos adversários”, diz Vieira.
Ozair Cavalcanti é de uma geração em que a lealdade política estava
acima de tudo. “Foi o primeiro prefeito a declarar apoio à candidatura
de Roberto Magalhães a governador”, lembra o ex-deputado Agostinho
Rufino, de Santa Cruz do Capibaribe, que também já foi apoiado pelo
ex-prefeito quando disputou um mandato para a Assembleia Legislativa.
Segundo ele, só dona Geralda, a viúva, conseguia conter Ozair nas horas
de fúria dos seus adversários. “Ozair enfrentou coronéis com uma bravura
nunca vista, não tinha medo de assombração e gostava de fazer o bem”,
observa, adiantando que dona Geralda, com o seu temperamento de santa,
já tirou o marido de muita encrenca.
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Fotos: Otávio Souto |
Prefeitos, lideranças políticas, vereadores e deputados foram dar o
último adeus a Ozair. Na multidão, muita gente se emocionou. Dona Maria
José foi vista chorando em frente à sua casa com um quadro nas mãos
trazendo a foto de Zito, como era conhecido o filho que Ozair perdeu
tragicamente.
“Eu fui merendeira de uma escola no tempo em que Ozair era prefeito. Para mim, ele sempre foi um pai”, disse Maria. Um pouco mais na frente, o agricultor aposentado Antônio Assis, 72 anos, chorava copiosamente. “Seu” Ozair era o pai da pobreza, mesmo fora da Prefeitura nunca nos abandonou”, afirmou.

Já se disse que um líder não nasce, faz-se. Este conceito de liderança
se aplica a Ozair Cavalcanti, que passa à história de Vertentes como
mito. Construiu sua trajetória, depois de militar como advogado de
causas populares, ao lado do seu povo, defendendo bandeiras, combatendo
as injustiças. Foi de um tempo em que o município só tinha o FPM como
receita, mas fez seus dois mandatos de forma honrada, deixando uma marca
que ninguém será capaz de apagar.
Do blog de Magno Martins /
Do blog de Magno Martins /
"Com a morte de Ozair Cavalcanti, finda-se em Vertentes um era em que se fazia oposição com razão, paixão, sempre junto do povo e com o povo"!
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